Obrigado por ler até aqui, Evandro. Sei que é muita coisa e poucos chegam a ler tudo. Eu tentei resumir e concatenar as informações dadas pelos resumos do Globo da melhor forma possível. A numeração é aproximada mas não condiz 100% com os roteiros originais, aos quais só tive acesso a pequenos trechos.
Acho sim que a Globo poderia digitalizar e disponibilizar os roteiros, podendo agregar e muito ao Projeto Fragmentos. Mas não vejo muito interesse da emissora, afinal não há retorno financeiro nisso, como há com o Globoplay. Até mesmo o acesso aos resumos do Globo exigem uma assinatura... Só quem tem acesso pessoalmente ao Cedoc deles que de fato consegue pegar nos roteiros. Ou então chegar nos autores das novelas que guardam os roteiros de suas obras.
Concordo com você que a história, vista hoje, não manteria nem dois meses de novela, mas naquela época a maioria das novelas tinham tramas simples e lentas, impensáveis para os dias atuais. No caso dos Gigantes, a novela era sombria e intimista. Creio que o grande interesse estava mais nos diálogos e nas atuações dos atores, por isso ler só os resumos dos capítulos pode soar maçante e desinteressante... Era uma novela com pouca ação e muitos diálogos.
Você tem razão no que diz respeito ao interesse do público e da imprensa da época. Naquele tempo havia poucas opções; mesmo com a concorrente Tupi (em vias de fechar) ou Bandeirantes, as novelas da Globo ainda eram líderes e essa, apesar de "fracasso", teve uma média de 50 pontos, audiência que hoje ninguém alcança mais. A novela foi esmagada pelos sucessos de Pai Herói e Água Viva, que vieram antes e depois e alcançavam 60 pontos ou mais com facilidade. Em contrapartida, Os Gigantes era uma novela mais real e ousada com temas tabus, enquanto Pai Herói era mais uma fantasia folhetinesca da Janete Clair (deveras datada, por sinal) e Água Viva mais um desfile de futilidades da classe alta de Gilberto Braga (a novela mais elitista e vazia do autor, na minha opinião). Mesmo assim, as duas novelas tinham muito mais apelo popular e foram sucessos (o público adora acompanhar fantasia ou ver vida de gente rica falando e fazendo bobagem). Muita gente lembra das duas que citei, mas apagaram Os Gigantes da memória. O maior apelo popular dos Gigantes, ao meu ver lendo as matérias, foi o casal coadjuvante Vítor e Selma (Jonas Mello e Cleyde Blota).
Já li pessoas sugerindo que a novela poderia ter tido mais gás e prendido a atenção do público com recursos mais folhetinescos. Como por exemplo uma ideia que eu li no Teledramaturgia: a eutanásia poderia ter começado como um grande segredo, até mesmo para o público, e por muitos capítulos Paloma guardaria esse segredo, mantendo um mistério instigante por um tempo. Teria ela matado Fred? Ela desligou os aparelhos? Há algum segredo entre os irmãos? Como Veridiana diz em uma cena, o amor dos dois chegava a ser até mesmo incestuoso! Enfim, só depois, num ápice climático, o público descobriria o que Paloma fez e daí se desenvolveria o conflito que temos na novela que aconteceu. Acho que assim a novela talvez tivesse prendido mais a atenção desde o início, quem sabe? E claro, Paloma poderia ter sido construída de uma forma mais concisa, sem perder sua personalidade forte e fora das convenções. Dina Sfat ficou perdida e detestou esse trabalho. De qualquer forma, seu talento era tão grande que ela ganhou o Troféu Imprensa de 1981 por esse trabalho, junto com Dercy Gonçalves por Cavalo Amarelo, da Bandeirantes.